terça-feira, 7 de abril de 2009

De volta...

Milagres às vezes acontecem...

to tentando manter isso aqui atualizado. Entar de vez nesse mundo da tecnologia. Não sei bem se consigo, sou bem impaciente p/ ter constância qnd se trata de blogs ou páginas de internet.
Bom, vamos ver no que dá...

Será que alguém ainda acredita q. isso vai p frente? hehehe!

p/ (re)começar, que tal um poeminha de Fernando Pessoa?

    Entre o sono e sonho,
    Entre mim e o que em mim
    É o quem eu me suponho
    Corre um rio sem fim.

    Passou por outras margens,
    Diversas mais além,
    Naquelas várias viagens
    Que todo o rio tem.

    Chegou onde hoje habito
    A casa que hoje sou.
    Passa, se eu me medito;
    Se desperto, passou.

    E quem me sinto e morre
    No que me liga a mim
    Dorme onde o rio corre -
    Esse rio sem fim.

    Fernando Pessoa, 11-9-1933

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Textinho legal!

Quando estava tentando fazer o bendito (ou maldito) trabalho de semântica, ontem, para a faculdade, me deparei com um texto que achei muito legal... Um texto que talvéz seja um dilema para muitos.

Por que se calam, por Lya Luft

A dificuldade de comunicação nos relacionamentos me fascina. A palavra não dita quando deveríamos ter falado, a palavra negada quando falar teria sido importante. O drama está em que, nos dois casos, a gente não sabia. Se adivinhava, não conseguiu agir. Os amantes a que me refiro – também num livro sobre o tema, que acaba de sair – não são apenas o casal amoroso, mas quaisquer pessoas ligadas (ou supostamente ligadas) por afeto. Isso inclui a família, meu tema recorrente: lá nem sempre reinam o afeto e o respeito. Alguém pode cobrar: "Aquela vez, naquele lugar, você me disse isso, e até hoje me dói". A gente pensa, repensa, mas não se lembra: "O que foi, quando foi? Eu jamais teria dito isso, sobretudo se ia te ferir". Mas o outro insiste na sua dor. A incomunicabilidade é quase um estado habitual de muitas pessoas: como nascer com algum defeito físico do qual não se tem culpa, mas que chateia ou atormenta. Saber se comunicar, no trabalho, no cotidiano e na vida pessoal, é uma dádiva. Abre portas e janelas, promove generosidade e acolhimento. Mas é raro. Em geral somos enrolados, somos tímidos, guardamos velhas mágoas ou somos arrogantes, outra face da insegurança e do medo. Trágicos desencontros podem nascer de situações aparentemente simples: pessoas comuns em sua vida sem graça, durante anos e anos de convívio sem grande conflito, pensam estar tudo bem. Então, sem nenhum sinal, uma palavra sequer, irrompe a violência, que pode ser física, ou moral, como uma traição. Uma insatisfação que já não se deixa controlar. O ressentimento explode como um vulcão de lama. Ou alguém comete a mais traiçoeira e punitiva das ações: mata-se um marido, uma mãe, um filho adolescente. Para o sempre do sempre, o peso da culpa permanece sobre os demais. Em que momento ele quis pedir ajuda e não percebi? Quando ela pensou em se abrir comigo, mas eu estava com pressa? Ontem, ainda, ele jogava bola comigo, e hoje vem a notícia de que se enforcou: o que eu poderia ter feito? A resposta pode ser um silêncio maligno que não vai se calar nunca mais. Mas existe também o silêncio bom, que, em lugar de erguer muros, abre espaços. É a não-necessidade de falar, entre pessoas seguras do seu carinho mútuo. Elas ficam perfeitamente felizes sentadas juntas, cada uma lendo seu livro, seu jornal, fazendo seu trabalho. De vez em quando uma palavra, um gesto de afeto, e ao redor delas abre-se um círculo de harmonia. Na vida nem tudo é sofrimento, esterilidade e solidão. A dor faz parte, mas há momentos de magia para todos. Da pessoa mais simples ao mais refinado intelectual, qualquer um pode descobri-los, ou persegui-los, quando a correria, os compromissos, as pressões lhe derem um pouco de paz. Ou ela terá de ser conquistada usando-se garras, dentes, cotovelos.Quando a linguagem é simples ou até supérflua, porque o sentimento é real e assim entendido, podemos escutar a alma do outro na sua respiração. Todo ruído, toda agitação, e até mesmo a fala, serão secundários. Os amantes não vão se calar por mágoa ou impotência, mas por que algo os expressa melhor do que as mais contundentes palavras.

Lya Luft é escritora